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   Vamos pular aquela estrutura de biografia mais esquelética, e transformá-la em algo mais pessoal, para você me conhecer com mais clareza.

   Eu, Mateus Alves de Souza, nasci em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, em 21 de Julho de 1997, mas me mudei para Divinópolis, Minas Gerais, Brasil, cidade de morada atual, em 2007.

   Minha 1ª Infância eu considero a fase de ouro da minha vida, e irrecuperável, até mesmo para a memória, pois me lembro de vagos acontecimentos e rotinas, mas dos quais foram as melhores. Adorava morar em Belo Horizonte, os ambientes que eu frequentava eram todos aconchegantes, especialmente a escola, onde tinha alguns amigos ( ainda me pergunto o que aconteceu com eles... ) dos quais brincávamos e ríamos sem preocupações que a vida adulta nos proporciona agora. Eu era muito feliz, carga de aprendizado alucinante é ainda meu maior atributo para essa época. Mas devido ao trabalho que meu pai exercia, tivemos que mudar para uma cidade que nunca tínhamos ouvido falar antes.

   Na época, achei bem difícil aceitar a mudança, pois apesar de não ter nenhum amigo da minha idade onde morava, gostava também do ambiente que condomínios proporcionam, aquele contato com os vizinhos ( menos os vizinhos que nem davam bom dia! ), aniversários, festas... Mas a vida segue, não dá pra ficar preso sempre no mesmo lugar, e algum tempo depois, já tinha me acostumado com Divinópolis, a Princesa do Oeste e capital da confecção. Devo admitir que pelo menos, o clima aqui é bem melhor que Belo Horizonte: menos poluição ( de todos os tipos ) e frio ( mas não o suficiente ainda, por mim no Brasil nevava o ano todo! ).

   A primeira casa, alugada, não tinha muito o que reclamar dela. Era uma boa casa, e ela resistiu à 4 anos da minha infância ativa. Passados esses anos, mudamos para outra casa, também alugada, quase na mesma rua que a anterior. E essa foi deveras a pior casa que já moramos. Não em questão de estrutura ou tamanho, ela seria aconchegante ( por ser pequena e bem estruturada ), se não fosse a energia negativa que rondava, e ainda ronda aquela casa ( dá até arrepio passar na frente dela até hoje! ).

   Fui informado, bem posteriormente, que uma mulher que morava naquela casa antes de mim e minha família, trabalhava com magia negra, tanto que no dia que chegamos lá, como eu era criança, fui correr pela casa e brincar, sem reparar em certos detalhes convenientes, mas que não escaparam ao olhar da minha mãe. E esses detalhes, diz minha mãe, consistiam em restos de velas coloridas pelos cantos da casa, sapos cururus que “brotavam” de um buraco no chão – que se não me engano era a caixa de gordura – ( brotavam, pois todas as vezes que tentamos nos livrar deles, eles simplesmente apareciam novamente naquele lugar ), cruzes invertidas atrás das portas, moedas peculiares ( que eu até cheguei achar elas bonitas, por causa de um tucano – eu acho – nelas representado ) e mais outros aparatos do mesmo nível.

   Como se não bastasse isso, o dono original daquela casa, morou e morreu nela, mas não sabemos muitas informações sobre ele. O que eu e minha família sabemos é que alguns eventos sobrenaturais ocorreram naquela casa, desde ouvir passos e vozes, à enxergar esse senhor que morreu na casa algumas vezes, na janela ou debaixo do pé de goiaba que tinha no quintal ( e não só conosco: meu irmão e sua família, quando mudaram para essa casa quando eu e minha família nos mudamos, também passaram por algumas situações um tanto estranhas ).

   Na época, quando eu era católico, morria de medo dessas coisas ( ainda dá um certo receio atualmente, mas por outro motivo agora: o desconhecido, não por ser ruim ou que exista de fato ). Eu tinha muito preconceito com pessoas que praticavam satanismo e afins, assim como as pessoas que participam da comunidade LGBT, por causa da religião que eu seguia. Me envergonho um pouco disso, mas felizmente nós crescemos, amadurecemos e percebemos nossos erros, e hoje, salvo de qualquer preconceito, sabendo que o respeito pelo que o outro é/crê/se veste/pensa/etc... deve ser respeitada, desde que não machuque ninguém, é mais do que obrigação como ser humano.

   Atualmente, me considero Livre Pensador, que não é uma religião, mas um pensamento filosófico, que resumidamente, é uma pessoa que pode acreditar ou desacreditar em qualquer ser de origem mitológica/sobrenatural, desde que seja provado de alguma forma, cientificamente ( que é mais provável de eu acreditar se assim for ) ou/e psicologicamente ( que é mais difícil para eu acreditar, pois depende da minha fé, e minha fé é ligada ao que posso captar com meus sentidos ). Como não penso nisso com frequência, não tenho algum tipo de deus ou divindade, o que não significa que eu não posso acreditar que exista um monstro de macarrão voador que rege o universo, desde que seja provado. Só estou comentando sobre essa casa e essa energia negativa; que eu não posso negar que existe, e o fato de ser livre pensador, pois denotam algumas fases da minha vida. O tempo que eu morei naquela casa e mais alguns anos depois, são a fase das trevas da minha vida, enquanto que o meu encontrar espiritual demarca o final da fase de bronze e o início da fase de prata que vivencio atualmente.

   Durante o período em que vivi na casa “assombrada” até finalizar o ensino fundamental, foi a fase da escuridão. Desde o começo da minha vida, fui cercado de amor e alegria, e eu fiquei um pouco “mimado”, não por soberba, mas por carinho e ternura. Quando eu conheci o que se chama crise existencial ou até algo mais pesado, a depressão, minhas paredes de conforto aparentemente infindáveis e cheio de luz, me caem por terra, revelando trevas e solidão que me rodeavam e me consumiram até quase tomar uma escolha sem retorno. Pode ter sido a “casa” responsável por isso? Cientificamente falando, talvez, pois essa questão de “energia negativa” pode ser levada e explicada no âmbito da física quântica. Mas independentemente de quem tem a “culpa”, não recomendo essa fase, nem ao meu pior inimigo.

   A fase das trevas foi um período muito difícil para mim. Até a quarta série, tudo estava razoável, não era mil maravilhas, mas era uma vida suportável: poucos amigos, brincar, aprender, como criança deve ser mesmo. O início da solidão. Por algum motivo, as pessoas começaram a se afastar de mim. Pouco a pouco, fui ficando sem ninguém a qual pudesse chamar além de colega de classe. Inclusive meus pais, pois achavam que eu era independente para fazer minhas lições sozinho, e eu não precisava de fato, mas o que eu mais queria era apenas a companhia deles. Mas eu não conseguia me expressar, então o que aconteceu? Eu comecei a acumular sentimentos, bons e ruins, especialmente ruins. Uma bomba-relógio.

   Acumular sentimentos era decorrente não só da ausência da presença humana benéfica, como também a presença de alguns indivíduos maléficos. Eu sofria bullying, por qualquer coisa que pudessem encontrar em mim. Por ser inteligente, por ser afeminado no ponto de vista deles ( e não nego, mas vou explicar isso mais na frente ), e até por ser sozinho, e eu não sabia lidar com isso. Com o decorrer dos anos, isso foi se aglomerando de uma forma tão massiva; ódio contido; mágoas passadas, que em 2010 a vida passou a ser insuportável. Não queria fazer nada, embora eu sempre dei o meu melhor, me travestido de forte. E sou de certo modo, alguns me chamam até de coração de gelo atualmente, mas naquele tempo eram outros conceitos. Era uma máscara, escondendo um rosto despedaçado.

   Essa bomba-relógio tinha chegado no seu limite. Quando eu estava na sombra do fundo do poço, achava que não fazia sentido mais viver. Tinha desenvolvido misantropia bem aguda ( a ponto de desejar a morte dos outros ), já estava avançada demais para regredir, e ainda tenho resquícios bem vívidos atualmente, mas ela está controlada felizmente. Queria simplesmente sumir. Não aguentava mais ser sozinho. Eu atualmente gosto de estar sozinho na minha maior parte do tempo, mas ser sozinho significa estar sozinho até de si mesmo, e era assim como me sentia naquela fase. Ou como eu diria naquele tempo: “até Deus tinha me abandonado?” Então uma ideia começou a tornar forma em minha mente caótica, uma saída para o sofrimento: o suicídio.

   Apesar de ser forte, para com outras pessoas, o suicídio foi o mais perto que cheguei de ser corajoso. Coragem ou covardia? Por que julgar? Ninguém pode estar no seu corpo e saber o que se passa na sua mente, se está são ou perturbado. Mas uma coisa é certa: algumas pessoas não conseguem ser fortes ou/e terem sorte o bastante para sobreviverem a depressão, e tomam decisões irreversíveis. Porém comigo aconteceu duas coisas que virou meu caos de ponta-cabeça. Em 2010 eu conheci duas salvações: a arte e Lady Gaga. Alô? Eu explico.

   Na época, a cantora americana Lady Gaga estava em turnê, pelo seu álbum The Fame Monster, do qual um primo meu me apresentou um dvd contendo um desses shows. Acabei me interessando pelo jeito louco que ela tinha, mesmo em meio ao caos, e decidi pesquisar mais sobre ela, sua história, músicas, mesmo sem saber inglês e tendo internet discada para isso. Algo nela havia me despertado um interesse diferente, a peculiaridade dela me encantava. Eis que um dia, ela anuncia uma música e o álbum que leva o título dela, do qual a Lady Gaga foi a responsável que me puxou do fundo do poço, me levando a luz: Born This Way. Quem estiver lendo e nunca ouviu essa música, procure a tradução dela, super recomendo, mesmo que não esteja tendo crises existenciais.

   Born This Way, fala sobre se aceitar, e não ligar com o que os outros dizem sobre você. Sobre ser quem você é. Sobre você ser perfeito do jeito que é. Era isso que precisava ouvir. Meus pais não sabiam do que estava acontecendo, não culpo eles de não terem me ajudado quando precisava. Mas ela me ajudou e evitou o fim certeiro. E hoje sou Little Monster ( assim como ela carinhosamente chama sua legião de fãs ), tenho muita admiração pelo o que ela fez por mim e por tantos jovens que passavam e ainda passam por situações semelhantes à minha. Quando comecei a compreender que, se eu viver em função do que os outros pensam de mim, eu jamais viveria minha vida e seria quem sou, e sim algo idealizado por outros, uma fantasia. Comecei a perdoar, a lidar melhor com as pessoas. Fui voltando aos poucos a ser aquela criança amorosa que eu era antes de tudo acontecer. Mesmo com os inimigos; ao invés de exalar ódio, a lenta conversão se transformou hoje em amor e compaixão.

   A fase de readaptação à sociedade eu considero a era de bronze, que durou entre o término do ensino fundamental até o fim do ensino médio. Lady Gaga havia me ensinado a amar novamente, e a arte consolidava isso. Mesmo no ensino médio eu tinha inimigos, mas era outro contexto, pois eu voava alto com minha arte. Em 2010 eu descobri o origami, a arte que me cativou até o presente momento. Eu havia construído para mim um grande tsuru, e voava acima de todos. Não por soberba, mas por intangibilidade. Cada vez mais alto, onde as flechas deles não me acertavam a medida que eu subia rumo as nuvens. O origami representa uma parcela importante na minha vida, e seu significado só se torna mais forte com o passar dos anos, e foi extremamente crucial na época que o descobri. É muito mais que dobrar papéis e alcançar um resultado ( Se clicar na aba curiosidades, vai entender melhor o que quero dizer. ).

   Atualmente vivencio a era de prata, que teve início depois que completei o ensino médio. Bem depois de ter mudado da casa “assombrada”, durante a era de bronze, as coisas começaram a encaminhar para onde eu queria. Depois de todas as turbulências que tive, algo ainda faltava. Encaminhar pra onde? Aceitar o que? O que sou afinal? Foi na era de prata que me encontrei em três lugares que estavam nebulosos até então pela visão evolucionista da aceitação e ascenção: politicamente, sexualmente e espiritualmente ( este último já mencionado ).

   Como sobrou misantropia em mim ainda, me definiu como niilista. O niilismo seria a negação de valores que a sociedade tem e que a impedem de progredir.

   Me descobri também assexual nesse meio tempo de 2015 pra cá, me incluindo na comunidade LGBT, a mesma que eu julgava sem preceitos. Uma pessoa assexual não sente atração sexual por outra pessoa, nada além de admiração ou “amor platônico”, se ficar difícil de compreender. E isso me abre portas para os dois lados da condição de atração do ser humano, pois posso tanto usar gírias gays e héteros por exemplo, sem culpa na minha consciência. Muitos me acham afeminado, acham que sou gay e afins, mas não importo com isso, foi-se o tempo que meus ouvidos retinham essas opiniões. E ser assexual não me faz melhor ou pior que ninguém, eu não escolhi e não adianta forçar contra o que é da minha natureza. Eu nasci dessa forma.

   Apesar da minha vida ter sido um pouco conturbada no início, agora ela está até morosa demais, e creio que vai se manter assim. Fico feliz se você chegou até o final desse texto, conhecer um pouco do artista por trás da sua arte. Espero de alguma forma ter te ajudado! Lembre-se: Ame você mesmo, com suas imperfeições e defeitos, pois você nasceu assim. Só desse modo você será capaz de amar o próximo!

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